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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Soltas vítimas de exploração no Pará


Adolescente, mulheres e travesti são libertados pela polícia em casa de prostituição de Vitória do Xingu
A Polícia Civil fechou, na noite de quarta-feira, dia 13, uma casa de prostituição que funcionava por meio de um esquema de tráfico interno de pessoas para exploração sexual, na zona rural de Vitória do Xingu, oeste do Pará. No local, cinco pessoas eram mantidas em cárcere privado - um travesti, três mulheres adultas e uma adolescente - todas da região Sul do Brasil. Dois gerentes do local foram presos em flagrante e encaminhados para a sede da Superintendência da Polícia Civil na Região do Xingu, em Altamira, para lavratura dos procedimentos policiais. O crime foi denunciado por uma adolescente de 16 anos que fugiu, nesta quarta-feira, do estabelecimento. A prática criminosa foi confirmada, por volta de 22 horas, durante operação policial deflagrada pela Polícia Civil sob a coordenação do superintendente regional, delegado Cristiano Marcelo do Nascimento.
A denúncia foi apresentada à Polícia Civil por meio de representantes do Conselho Tutelar de Altamira procurados pela adolescente. A conselheira tutelar Lucenilda Lima foi procurada pela jovem, uma gaúcha nascida em Maraú, no Estado do Rio Grande do Sul. A garota denunciou que foi trazida por um homem do estado de origem para o Pará, há uma semana, sob a promessa de trabalhar em uma boate, onde ganharia R$ 14 mil por semana. Mas, ao chegar ao Pará, a situação era bem diferente. Ela foi levada para a zona rural do município de Vitória do Xingu, onde ficou presa no prostíbulo, situado no interior de um sítio, na localidade de Vila São Francisco, localizada a 20 quilômetros de dois canteiros de obras - "Pimental" e "Canais e Diques" - da hidrelétrica de Belo Monte.
A jovem relatou que, nesse local, foi forçada a se prostituir e mantida o tempo todo trancada em um quarto. A vítima contou ainda que era ameaçada pelo dono da boate, conhecido como Adão, que também seria oriundo do Rio Grande do Sul. Segundo ela, havia no local outras mulheres na mesma situação. A jovem relatou também que as pessoas não eram alimentadas e o tempo todo eram vigiadas por capangas e obrigadas a fazer programas para cobrir as dívidas com o dono da boate pelas despesas com a viagem do sul do País para o Pará. A jovem revelou que trabalhadores da obra de Belo Monte eram os principais clientes da casa de prostituição. A adolescente conta que conseguiu fugir da boate e conseguiu uma carona até Altamira para denunciar o crime.
Com base nas informações, a Polícia Civil formou uma equipe para apurar a denúncia e seguiu até a localidade, na zona rural de Vitória do Xingu, junto com a vítima e os conselheiros tutelares Josevam e Lucenilda Lima. Ali, os policiais civis constataram a veracidade das denúncias. "Percebemos que os quartos onde ficavam alojadas as mulheres possuíam trancas pelo lado de fora. Os policiais encontraram outras três mulheres e uma travesti que também estavam sendo exploradas sexualmente no local. Todas com maioridade e vindas de estados da região Sul do País", explicou o delegado Cristiano Nascimento. No momento da chegada da polícia, o dono da boate, de prenome Adão, fugiu do local, mas, conforme o delegado, a Polícia Civil vai representar junto ao Poder Judiciário pela prisão do acusado.
Gerentes do estabelecimento são presos
No local foram presos em flagrante os gaúchos Carlos Fabrício Pinheiro, 33 anos, de Cruz Alta (RS), e Adriano Cansan, 20, de Nova Roma do Sul (RS), responsáveis pelo gerenciamento do estabelecimento. Um atuava como gerente e o outro, segundo os relatos, trabalhava como garçom. Porém, o segundo acusado também agia como um gerente, pois era o responsável por trancar os quartos onde dormiam as vítimas. Foram resgatadas três mulheres naturais de Santa Catarina (com 18, 21 e 23 anos) e um travesti paranaense de 20 anos nascido em Pinhão (PR).
Os presos foram enquadrados no Código Penal Brasileiro, nos artigos 231-A, por tráfico de pessoas para exploração sexual; 218-B, por submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma de exploração sexual pessoa menor de 18 anos; 228, por induzir ou atrair alguém à prostituição ou outra forma de exploração sexual; 229 por manter, por conta própria ou de terceiro, estabelecimento em que ocorra exploração sexual, visando lucro, ou por mediação direta do proprietário ou gerente, e 230, por tirar proveito da prostituição alheia, participando diretamente dos lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem exerça a prática ilegal.
Polícia Federal enfrenta dificuldades para investigar o crime
A Polícia Federal tem doze investigações em andamento no Pará relacionadas ao tráfico internacional de pessoas. A informação é do delegado da Polícia Federal Uálame Machado. Ele acrescenta que destas investigações, dez são de tráfico no Suriname e duas de tráfico para a Europa. Segundo o delegado, as pessoas traficadas no Pará e em outros estados do País são mulheres que moram na periferia, têm de 18 a 25 anos, estão desempregadas e têm baixo grau de escolaridade.
"O sul do Pará, a periferia da Região Metropolitana de Belém e a ilha do Marajó são os locais escolhidos pelos traficantes para conseguir as pessoas. Eles levam as meninas ou os travestis para o Suriname. É o que a polícia tem verificado e investigado nos últimos anos", disse.
Ele acrescenta que a polícia encontra dificuldades quando começa a investigar o crime de tráfico humano. "Há dois tipos de vítima: a que sabe que vai se prostituir e a que não sabe. Quando vão tirar passaporte, elas sempre dizem que estão indo para os locais para trabalhar como garçonete. Quando a família faz a denúncia, querem apenas que a pessoa traficada retorne e esquecem que podem ajudar a desarticular uma rede de tráfico humano. Quando a pessoa traficada retorna, ela não vem na polícia contar o que viveu, o que passou lá, onde ficava a boate", disse o delegado.
Ele ainda alerta para a ação desses aliciadores. "Se a pessoa oferecer emprego fácil e um dinheiro alto para você trabalhar em outro país, desconfie".
As pessoas podem fazer denúncias de tráfico humano pelos telefones 194 (Polícia Federal) e 181 (Polícia Civil).

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