Quatro anos depois do desaparecimento da ex-modelo Eliza
Samudio, o primo do goleiro e ex-capitão do Flamengo, Bruno Fernandes, Jorge
Rosa Sales, também suspeito de participação no crime, revelou detalhes inéditos
sobre o caso e onde o corpo de Eliza foi enterrado. Em entrevista à Rádio Tupi,
na manhã desta quinta-feira (24/7), Jorge afirmou que Elisa foi morta por Luiz
Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e pelo x-policial Marcos Aparecido dos
Santos, o Bola, com o conhecimento de Bruno, e teve o seu corpo enterrado em um
terreno nas proximidades do Aeroporto de Confins, em Belo Horizonte (MG). Jorge
confessou ser testemunha do crime e ainda ajudou a jogar terra no corpo da
modelo.
Jorge forneceu na entrevista detalhes de como aconteceu o
assassinato de Eliza, peças de um quebra-cabeça que a polícia ainda não
conseguiu montar. Segundo ele, o corpo da modelo foi enrolado em um lençol e
depois num saco preto, levado no porta malas de um carro até o terreno baldio
bem perto do aeroporto. "Entramos em uma estrada bem escura, estava eu,
Bola, Macarrão e também a criança [filho de Eliza com Bruno]. Quando chegamos
ao terreno, já estava tudo preparado. Tiramos o corpo do porta-malas e
colocamos no chão e depois jogamos num buraco bem fundo, que foi cavado com um
trator. Macarrão e Bola jogaram terra em cima e até eu ajudei", contou
Jorge, afirmando ainda que não sabe até hoje quem cavou a cova profunda. Jorge
revelou que o filho do casal ficou dormindo no carro.
Jorge disse que o assassinato foi depois da festa que
aconteceu no sítio de Bruno, que contou com a presença de amigos e da ex-mulher
de Bruno, Dayanne Rodrigues. Em um determinado momento, Bruno mandou o primo
pegar as malas de Eliza, explicando que ela dormiria em um hotel. Depois disso,
Macarrão e Bola teriam colocado em prática o plano de execução da modelo.
Jorge assumiu que teve participação no sequestro de Eliza,
ocorrido ainda no Rio de Janeiro. Segundo ele, a modelo telefonou para Macarrão
e exigiu mais dinheiro. Então, Macarrão teria ligado para Jorge e solicitado
que fosse levado até o apartamento de Eliza. Ainda na versão do primo do
ex-goleiro, quando chegaram ao local, eles renderam a modelo e a colocaram no
carro junto com a criança. Jorge afirmou que até esse momento Bruno não tinha
conhecimento do sequestro e havia pedido a ele para levar um short, pois iria
dormir na concentração do Clube. Somente no dia seguinte, já em seu sítio em
Minas, Bruno viu Eliza já ferida por Macarrão. Jorge disse que ouviu Macarrão aconselhando
Bruno a resolver o problema e disse para o goleiro a frase - "não tem
jeito não".
Depois do crime, Jorge disse que contou a verdade para um
tio, que o aconselhou a procurar a polícia. No entanto, foi aconselhado pelos
seus advogados a mudar várias vezes a versão dos fatos e a verdade ficou
somente entre ele e o tio até o momento da entrevista para a Rádio Tupi. Jorge
justificou que não saiu de Belo Horizonte durante as investigações por temer
ser morto por Bola. Na época do desaparecimento de Eliza Samudio, Jorge tinha
17 anos e a certeza da impunidade. Ele disse na entrevista que gostou de
manusear uma pistola 380 e não ganhou nenhum dinheiro para ajudar no crime.
Jorge comentou sobre o assassinato de outro primo que
supostamente saberia detalhes da morte de Eliza, Sérgio Rosa Sales, que chegou
a participar da reconstituição do caso e foi morto em agosto de 2012. Jorge
disse que Sérgio não tinha o hábito de "cantar" mulher comprometida e
a morte dele foi suspeita. Segundo Jorge, Sérgio falou o que não devia e era um
dos inimigos de Macarrão. Após prestar depoimento, Jorge ficou sabendo por um
amigo em comum com Macarrão, conhecido como Cleitão, que Macarrão cogitou
matá-lo, pois estava receoso dele revelar a trama. Porém, ficou com medo da
reação da família de Jorge.
Para o jornalista Marcos Marinho, que produziu a reportagem
na Tupi, Jorge deu detalhes de como chegar ao local onde supostamente está
enterrado o corpo de Samudio, de acordo com a sua versão. "Antes de chegar
ao aeroporto, tem um retorno e depois dele entramos na terceira rua, numa
estrada de chão. É um lugar aberto, com muito mato e algumas cercas de
proteção. O terreno é muito grande e não parece uma propriedade particular.
Fica bem distante do início da estrada de chão e a marcação é um único pé de
coqueiro que existe no terreno. Macarrão conhece muito aquele lugar, pois foi
criado e morava ali perto, no bairro Liberdade", contou Jorge.
O caso Eliza Samudio
Eliza Samudio desapareceu no dia 4 de junho de 2010 após ter
saído do Rio de Janeiro para ir a Minas Gerais a convite de Bruno. Vinte dias
depois a polícia recebeu denúncias anônimas de que Eliza havia sido espancada
por Bruno e dois amigos dele até a morte no sítio de propriedade do jogador,
localizado em Esmeraldas, na Grande Belo Horizonte. O filho de Eliza, então com
quatro meses, teria sido levado pela mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues. O
menino foi achado posteriormente na casa de uma adolescente no bairro
Liberdade, em Ribeirão das Neves.
No dia seguinte, a mulher de Bruno foi presa. Após serem
considerados foragidos, o goleiro e seu amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão,
acusado de participar do crime, se entregaram à polícia. Pouco depois, Flávio
Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza, o Coxinha Elenilson Vitor da Silva
e Sérgio Rosa Sales, outro primo de Bruno, também foram presos por envolvimento
no crime. Enquanto a polícia fazia buscas ao corpo de Eliza, um motorista de
ônibus denunciou o primo do goleiro como participante do crime. Apreendido,
jovem de 17 anos relatou à polícia que a ex-amante de Bruno foi mantida em
cativeiro e executada pelo ex-policial civil Marcos Aparecido dos Santos,
conhecido como Bola, que a estrangulou e esquartejou seu corpo. Ainda segundo o
relato, o ex-policial jogou os restos mortais para seus cães.
No dia 30 de julho, a Polícia de Minas Gerais indiciou todos
pelo sequestro e morte de Eliza, sendo que Bruno foi apontado como mandante e
executor do crime. No início de dezembro, Bruno e Macarrão foram condenados
pelo sequestro e agressão a Eliza, em outubro de 2009, pela Justiça do Rio. O
goleiro pegou quatro anos e seis meses de prisão.
Em 17 de dezembro, a Justiça mineira decidiu que Bruno,
Macarrão, Sérgio Rosa Sales e Bola seriam levados a júri popular por homicídio
triplamente qualificado, sendo que o último responderá também por ocultação de
cadáver. Dayanne, Fernanda, Elenilson e Wemerson responderiam por sequestro e
cárcere privado.No dia 19 de novembro de 2012, foi dado início ao julgamento de
Bruno, Bola, Macarrão, Dayanne e Fernanda. Dois dias depois, após mudanças na
defesa do goleiro, o tribunal decidiu desmembrar o processo.
O júri condenou Macarrão, a 15 anos de prisão, e Fernanda
Gomes de Castro, a cinco anos. No dia 8 de março de 2013, Bruno foi condenado a
22 anos e três meses de prisão, dos quais 17 anos e seis meses terão de ser
cumpridos em regime fechado. Dayanne Rodrigues do Carmo, ex-mulher do goleiro e
acusada de ser cúmplice no crime, foi absolvida. O ex-policial Marcos Aparecido
dos Santos, o Bola, que é acusado como autor do homicídio, teve o júri marcado
para abril de 2013.
Blog do Odecy Guilherme
Fonte G 1 Pará