Cerca de 50 índios da etnia Tembé invadiram e ocuparam, desde
terça-feira até ontem, as instalações da empresa Biopalma, pertencente à Vale,
no município de Tomé-Açu, nordeste do Pará.
A Biopalma, através de nota à imprensa, acusa os índios da
terra indígena Turé-Mariquita de, além da invasão, terem se apossado de bens da
empresa e levado do local cinco veículos (três tratores e dois carros
utilitários). Estas manifestações dos indígenas estão ocorrendo desde o último
dia 24 de dezembro, quando um cacique esteve no polo de Tomé –Açu, de onde
retirou um trator.
A nota diz que os índios, armados, retornaram ontem ao local
e, “na tentativa de impedir as atividades, se apossaram de dois tratores e um
rádio de telecomunicação”.
Posteriormente, no polo agrícola de Vera Cruz, no Acará,
outro grupo atacou com uma flecha um veículo da Biopalma. Nenhum empregado se
feriu. Após a ação, os índios retornaram para a aldeia, conduzindo os
equipamentos.
VEÍCULOS
No total, estão em posse dos indígenas nove veículos, um
rádio de telecomunicação e um celular de um empregado. “A mesma ação de
apropriação de veículos e materiais da empresa já havia sido realizada pelos
mesmos indígenas em outubro de 2014 quando, por decisão obtida em liminar de
reintegração, a Biopalma conseguiu reaver os bens, com apoio judiciário e
policial”, observa a empresa.
De acordo com a nota, a Biopalma repudia este tipo de ação
que coloca em risco a integridade física de seus empregados e prestadores de
serviços. A empresa registrou boletim de ocorrência para as devidas
providências legais.
Ela afirma que atua rigorosamente de acordo com a legislação
trabalhista e ambiental e esclarece que teve acesso ao “Relatório Técnico de
avaliação da água superficial e sedimento de fundo localizados em áreas
potencialmente impactadas pelo cultivo do dendê nos municípios de Concórdia do
Pará e Bujaru”, produzido pelo Instituto Evandro Chagas (IEC).
Segundo os lideres indígenas, a Agropalma não teria cumprido
sua parte no acordo em relação ao impacto nas áreas desmatadas, como o não
reflorestamento e a não redução dos agrotóxicos. A Biopalma, por meio de nota,
nega as acusações. Ela também nega que tenha atividades dentro da área onde
vivem os índios.
A ação dos tembés começou ainda na tarde de terça-feira, com
a interdição de estradas que davam acesso à sede da Biopalma. Exigindo uma
negociação e sem obterem resposta imediata, como queriam, eles tomaram
equipamentos e maquinários, invadindo logo em seguida o prédio.
“Nós chegamos a nos reunir algumas vezes no ano passado, mas
desde novembro a empresa e a Funai (Fundação Nacional do Índio) não nos dão
resposta. Estamos todos revoltados. Queremos ser recebidos para discutir essa
situação”, acrescentou o cacique Porangati Tembé, uma das lideranças do
movimento, garantindo que nenhum trabalhador da empresa havia sido mantido como
refém.
Por fim, a Biopalma diz que desde novembro passado tem
realizado reuniões com a Funai e Ministério Público Federal para que situações
como estas não voltem a ocorrer. A empresa reforça que mantém sua “firme
disponibilidade para o diálogo”, sempre através da mediação da Funai.
(Diário do Pará)